segunda-feira, dezembro 04, 2006

o surrealismo no café da esquina [capítulo 1]

a tosse

- cof, cof, cof.
- sabe como é que lhe passava essa tosse? sabe?
- diga lá...
- o amigo deita-se de barriga para cima, desfaz um cigarro e espalha o tabaco assim seco (exemplificou desfazendo um cigarro para o chão) para cima do peito.
- um cigarro inteiro?
- e depois bochecha um gole de aguardente, não bebe, tá a ouvir? não é para beber. bochecha só.
- aguardente?
- e depois cospe para cima do peito. assim como os bebés fazem depois de comer. e pede à sua mulher ou a uma amiga ou a quem estiver consigo para massajar o peito até desfazer o tabaco.
- com a mão?
- sim, espalha com a mão até o tabaco desaparecer da mão e ficar bem espalhado no peito. mas depois não pode tomar banho. a sua mulher diz-lhe: ah, cheiras a aguardente! não faz mal. vai ver que lhe passa a tosse. amanhã quando acordar tá novo.
- vou já fazer isso hoje.
- estou-lhe a dizer. é certinho. depois amanhã conta-me.
- já tenho feito de tudo. vou ao hospital e só me dão é xaropes e a tosse não há meio de passar.
- os médicos não sabem curar a tosse. nenhum médico sabe isto. tou-lhe a dizer. os bebés até aos três anos. três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, seja o que for. eles cospem sempre depois de comer porquê? é para despejar a tosse, tou-lhe a dizer. os médico não sabe isso, homem.

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