no dia em que fui ver o Babel li (não tenho axn) que acabava de ganhar o globo para melhor filme. hesito. hesitaria mais se tivesse ganho o óscar. mas fui. à entrada a expectativa torna difícil esquecer o amores perros e as 21 gramas. mas apesar de díficil, é um exercício necessário. e o iñarritu merece o esforço. à saída a grande questão: o babel é bom?
se comparado com os anteriores, não é tão bom. o amor cão é, embora inflaccionado pela evidente carência de meios e pela incerteza de uma estreia, uma obra de arte. o 21 gramas, embora inflaccionado pelo sean penn e pelo benicio del toro, um pequeno murro no estômago (ah, cliché). o babel não é nada disso. e desilude quem esperava uma evolução dentro do género "mosaico". desilude ainda pela realização parca em mudanças de ambiente visual que a própria história proporciona ou até obriga. já a falta de densidade das personagens é algo normal na díade argumento/realização de arriaga/iñarritu. e é, arrisco-me a dizer, propositada. propositada na medida em que nos obriga a centrar naquilo que é importante acima de tudo - a história. as dificuldades de comunicação num mundo globalizado e egoísta. e a mensagem - quer nos queiramos reconhecer culpados dela ou não - é transmitida, independentemente de sabermos mais antecedentes das personagens. o que interessa é a situação actual, a angústia do presente (em cada uma das histórias simultâneas). e a história é boa. o problema é que não é suficientemente boa para nos implicar como co-responsáveis da mesma. e aí, nessa suposta pretensão de moralismo, iñarritu dá um passo maior que a perna.
não sendo um filme brilhante, o babel é bom. o enredo, melhorável sem dúvida, a montagem e fotografia excepcionais, e a banda sonora que balança ao ritmo da história, estão lá. a exposição de uma incomunicabilidade que catalisa a incompreensão e o preconceito, também. ao e ao mostrar o histerismo global face à ameaça de terrorismo e o desprezo da américa imperialista pela américa explorada (o que não podia deixar de ser num filme de mexicanos), pisca sem dúvida - e de maneira assumida - o olho aos prémios, nem que seja pela actualidade dos temas.
claro que queria um filme melhor. muito melhor. o filme revela mais potencial do que obra conseguida. mas isso não o transforma num filme mau. e a análise de toda a crítica do público/Y que o classifica como uma autêntica nulidade, não pode revelar mais do que um absurdo preconceito, que podendo estar presente na crítica, não deveria transformar-se num texto da mais abjecta inconsciência como este.
4 Comments:
Ainda não vi por isso não me posso alongar muito. A curiosidade não me consomia muito para ver este capítulo final da trilogia da dor,mas com toda a controvérsia e mediatismo vou ter mesmo de dar uma espreitadela para disparar com as minhas próprias armas. Uma coisa que não entendo é a ideia que um filme em mosaico é um conceito novo. Parece que as pessoas esqueceram que antes de Babel estiveram Amor Cão e 21 Gramas, parece que só quando um grande estúdio come um pequeno realizador é que vêm as coisas claramente, e fala-se muito: é um filme em mosaico, espectacular!Onde está a novidade?É diferente sim senhor, mas Tarantino não nos tinha já mostrado como se faz?(ver Jackie Brown)Qualquer dia aparece um filme de um grande estúdio feito de trás para a frente e todos dizem, que grande inovação, e esquecemos Memento.
O Y é assim ama uns e odeia outros, façam o que fizerem.Não conseguem tirar as palas.O que vale é que ainda temos a Premiere que de vez em quando lá manda um murro ou outro a esses pseudo intelectuais, pseudo criticos e acima de tudo pseudo amantes de cinema.
Depois de deixares o fumo, pensei que ias mudar... mas ainda és o mesmo! Puseste em palavras o meu pensamento, já que sou incapaz de juntar 2 linhas e dar-lhes o nome de texto...
eu saí do filme sabendo que em japonês varanda se pronuncia "baranda".
Post a Comment