terça-feira, outubro 28, 2008

posta mista

é com algum escândalo que venho constatando, de alguns anos a esta parte, que a tosta mista tem vindo a ser subvalorizada na cultura ocidental, tendo-se esta rendido aos prazeres mais imediatos de um hamburger (dantes dizia uma hamburger). no entanto a importância histórica e o mérito da tosta mista no seio (dantes dizia teta) da civilização tal como a conhecemos não pode ser mascarada com recurso a subterfúgios (dantes não sabia escrever subterfúgios) derivados de uma hipócrita e falsa moralidade bem patente nos responsáveis políticos e económicos que nas últimas décadas tenderam a minorar os prazeres da referida tosta mista enquanto pilar fundamental da alimentação no mundo desenvolvido, nomeadamente no mundo masculino, solteiro e deprimido (ia rever o conteúdo destúltima frase, mas já passa das quatro da manhã - hora antiga -, por isso, siga). escalpelizemos. a tosta mista é incrivelmente mais fácil de fazer do que um hamburger, dá menos trabalho e demora menos tempo. outra vantagem não discipienda prende-se com o facto da tosta mista fazer as vezes de qualquer refeição, com inigualável sucesso. de um simples pequeno almoço (se acompanhada por um leite quente com nesquik ou um yoggi de banana) até um faustoso jantar (desde que acompanhada por cerveja ou coca-cola - nunca pepsi). é, pois, com indisfarçável mágoa que vejo a tosta mista ser maltratada em inúmeros estabelecimentos de maior ou menor nomeada e vilmente ignorada pelo maquedonaldes. o que se passa no mundo da tosta mista adquire contornos de escândalo que urge combater. exagero? não creio. começemos pelo preço: as fatias de fiambre e queijo necessárias à digna confecção da tosta mista não justificam os criminosos preços que se praticam pelos responsáveis da restauração. não tenho conhecimento de que o preço da tosta mista esteja indexada ao barril de brent ou à euribor, mas pode não passar de ignorância da minha parte. qualquer coisa acima dos trezentos paus na moeda antiga (dantes dizia só trezentos paus) deveria ser considerado atentado à saúde pública. mas, quiçá mais importante do que o aspecto monetário são as atrocidades a que o queijo e fiambre se vêem sujeitos, sendo muitas vezes assassinados no meio de duas fatias de panrico que se desintegram no trajecto prato-mão-boca. o ideal é pão alentejano, mas, mesmo na impossibilidade de pão alentejano, nunca (inserir maiúsculas neste nunca) nunca fazer tostas mistas com fatias de panrico. servir tostas mistas a outrém com recurso a duas fatias de panrico deveria ser passível de obrigar os responsáveis a ler os livros do josé rodrigues dos santos ou, se quisermos ser meiguinhos, a linchamento público. outro aspecto essencial: o tempo de tostação, chamemos-lhe assim. há cada vez menos respeito pelo tempo de tostação. se não quero morder fiambre frio, muito menos quero ferrugem. é preciso deixar o queijo derreter, o que é diferente de o deixar incinerar. o que nos leva para um pormenor de não menos pertinência: a proporção queijo/fiambre ideal numa tosta mista. estudos científicos feitos por este que vos maça ao longo de mais de uma década revelam que a proporção ideal é de duas partes de queijo para uma de fiambre. a proporção queijo/fiambre (tão esquecida por quem de direito) é essencial para uma porção suficiente de queijo derretido capaz de, num movimento tipo chiclet, chegar a dez centímetros da boca sem se descontinuar. esta proporção é independente do número de fatias ou do tamanho da tosta mista a confeccionar, mas notar que, em caso de uso plural de fatias, reveste-se de vital importância a alternância queijo-fiambre-queijo-fiambre e assim sucessi... you got it, de modo a que o queijo derreta mais facilmente e num período de tempo que permita não queimar a côdea do pão e, por exemplo, três fatias de fiambre nunca fiquem em posição não alternada, o que daria o aspecto e a textura de um bife, à luz do tacto dental. e se eu quisesse comer um bife dentro de duas fatias de pão ia ali à praça de espanha mamar uma bifana.


nota: no final, a tosta mista é para barrar com manteiga, de preferência apenas de um dos lados, de preferência do lado de cima, de preferência com margarina vegetal, de preferência flora ou planta.

6 Comments:

Cromossoma X said...

Já para não falar dos estabelecimentos que perguntam se o cliente quer panrico com ou sem côdea.
E os cachorros, que é feito dos cachorros que já não existem?
"- quer cachorro ou cachorrão?!" - perguntava-se na minha escola...

PDuarte said...

e as sopas de cavalo cansado?
estão-se a perder as mais nobres merendas da nação
e o que é feito das merendas?
e o que é feito da nação?
e por aí fora...

PDuarte said...

digo:estão se a perder

PDuarte said...

volto a dizer: estão a perder-se

extravaganza said...

Concordo com tudo até à manteiga: tem que ser Primor. Ou Milhafre! Ou Nova Açores!

("começemos"? Ai ai esse português de Espanha... :P)

João Gaspar said...

isso do comecemos não ter cedilha é uma vergonha. para mim, que não sei escrever comecemos, mas especialmente para o comecemos. nem cedilha, nem um acento, nem nada. brinca com o quê?