sábado, novembro 04, 2006

é o que dá fazer lisboa-beja a 80 derivado à chuva!

gosto de música. começo por dizer que gosto muito de música para não vir a ser mal interpretado. e por gostar muito de música é que não gosto da maioria da música que se faz agora. entenda-se este agora como os últimos anos, em que a música – e a cultura, de um modo geral – se democratizou.

democratizou-se no acesso às massas, o que acho bem.
democratizou-se enquanto forma de expressão cultural, emocional e sentimental, o que acho extraordinário.
democratizou-se na diversidade de culturas, sociedades, ritmos e tribos que ouvem e fazem música, o que não me aquece nem me arrefece.
mas democratizou-se no direito de (quase) qualquer um (artista ou banda) a poder transformar num produto comercial devidamente embalado, prestes a ser globalizadamente colocado à disposição do consumidor. e isso chateia-me bastante.

a mim que até sou a favor da maioria das democratizações (não confundir com democracias). acho piada até que um zé pegue no seu banjo algures entre uma favela do rio e a muralha da china e eu o consiga ouvir (ao banjo, não ao zé) enquanto me sento a escrever estas linhas em que os vossos olhos se cansam. o que começo a não suportar é a quantidade (normalmente na razão inversa da qualidade) de cd’s, dvd’s, ipods, mp3, downloads, e demais sucedâneos que vos pareçam adequados com que nos deparamos todos os dias.
[não obstante esta imensidão as rádios conseguem passar as mesmas quinze músicas da playlist durante meses seguidos, mas isso é outra discussão.]

onde é que eu ia? ah, a quantidade de bandas boas que aparecem num ano cabe na palma de uma mão. destas, as que têm um segundo álbum com décibeis qualitativamente no limite do aceitável são ainda menos. a quantidade de discos bons (com bê grande) durante um ano é a décima parte dos discos maus (com eme pequeno). para cada banda que surge e têm êxito (leia-se: vende discos comó caraças!) aparecem dezenas de réplicas ocas de talento, desejosas de se colar a uma fórmula de êxito puramente comercial e que pouco tem a ver com música. podia tratar-se de vender gravatas na feira da ladra que essas réplicas apareciam na mesma.

bandas com qualidade, cuja estética sonora preenche o mais amplo dos espaços etéreos, cuja leveza do som se alia à força das palavras para nos penetrar aquele bocado de terra interior que julgávamos ser só nosso, para nos transportar por inteiro ao mais belo dos sorrisos e emoções, bandas dessas há poucas. e a surgirem de novo quase nenhumas.

e é aqui que eu não gosto da democratização da música. dantes ouviam-se as boas bandas (excluir movimentos sociais disparatados dos quais a humanidade um dia se arrependerá). e conheciam-se todas pelo nome. mais o apelido dos dois guitarristas se os tivesse. e idades, e cidade, e discografia (que dantes, regra geral, ultrapassava em muito o actual álbum e meio de média), e autores da letra de cada faixa. e amava-se (com) aquela música.
as outras, salvo nos ditos movimentos, eram votadas ao esquecimento, onde o seu ruído pertence por direito próprio. agora, ouvem-se as más. à força e em massa. e são muitas. e são mais. desde que começaste a ler este texto já deverão ter aparecido centenas, milhares de bandas de brittish rock, reggae, heavy-metal, punk rock, new age, nouvelle vague, trash yeah, bois bands, street power, hip-flop, funny metal, get so loud, ye yes, das quais nos lembraremos de aproximadamente zero ainda antes de terminar este texto. esta democratização, meu amigo, está prestes a matar a música.

hoje conheço a música de duzentas bandas das quais nunca soube o nome. aprecio, assim com gosto e tudo, cinquenta ou sessenta bandas cujo nome já soube mas não consigo recordar. e isto está a matar a música do passado. a memória atraiçoa-nos porque as bandas são muitas. e são mais. e são demais. por isso não gosto da democratização da música.


e isto tudo porquê, afinal? porque ainda há bocado me queria lembrar daqueles mans - bastante apaneleirados, por sinal - que cantavam o who can it be now? / who can it be... now? e não conseguia. e naquele momento, meu amigo, fui um homem triste. não por mim, que o google resolve tudo. mas pela música.

7 Comments:

Anónimo said...

n concordo. as bandas boas que aparecem num ano sao mtas. n significa é que oiças falar delas, e aí reside o teu maior engano. a música n se democratizou. democratizou.se o acesso a um microfone, m quem decide o que tu ouves sao poucos, chamemos.lhes os oligarcas da industria musical.
de resto, nem por isso a música e os músicos que corremos o risco de esquecer (aqueles q ouvimos dd sempre) eram mto mlhores. man at work incluidos..

Anónimo said...

Eram os Men At Work, felizmente ainda não fui tão musicalmente destruido como tu aparentas ter sido... Tudo o que disseste concordo, já praí há uns 12-15 anos que não oiço uma banda verdadeiramente boa (as últimas, na minha opinião surgiram com o grunge...) Desde então... 0! Mas tenho uma boa maneira de evitar o que te acontece, essa contaminação da memória musical: sempre que tenho um dia stressante (leia-se fodido!) não há nada como chegar a casa, deitar-me na cama e pôr o "Master of Puppets" (esse sim, um grande álbum!)a tocar a altos berros até as janelas vibrarem... Terapia de choque, mas levanto-me com um sorriso nos lábios! Tenta com um que gostes mesmo mto, vais ver que funciona! Abraço

Anónimo said...

oligarcas ???!!!

Fónix, sim senhor!

Os men at work (ou o lapso mnésico, melhor dizendo!) foram apenas o impulso que desencadeou a triste teia de pensamentos de setúbal a évora. Não são um exemplo ilustrativo da parte conceptual (se é que existe!) do meu escrito.

Estão excluídos muitos exemplos dos que ouvíamos desde sempre, repito! Mas não só das bandas antigas que não me lembro. Uma limitação enorme faz-me perder mais de metade da nova informação musical, há tanta coisa nova a aparecer!

E o (meu) problema é que até uma máquina de lavar quando está na fase de centrifugar e faz aquele ta-ta-ta-ta-ta - sabes? - num misto de ruído entre o tambor da maq itself, a fricção com a parede e o chiar daquele pé que inevitavelmente está mais descaído que os outros... até disso são capazes de gravar um disco não tarda muito!

JG

Anónimo said...

JP,

Obviamente tenho os meus "puppets", claro! mas não estavam no carro!

;)


Abraços pra voçês!

Anónimo said...

"Voçês" ?!?!? Com cedilha?!?!?! Mas afinal a senda das biqueiradas na gramática continua!!!

Ainda bem que tens pelo menos um albumzinho que te deixa "entesado" no bom sentido da palavra, por isso ainda mais calamitoso é não andares com ele sempre a jeito!!! Pra que é que tu achas que comprei um mp3?? Pa ter estilo não??? É prás manhãs de 45min no 24T pra chegar ao Lab antes das 9 da matina serem suportáveis, chego lá, incrivelmente, com vontade de trabalhar!!! Tenta, funciona! Abraço (vês, esta palavra tem cedilha!)

Anónimo said...

Sempre atento, muito bem!

Desculpe, senhor profeçor Paquete Soeiro!

Chiça, vou começar (esta tem cedilha, não tem?) a fazer mais cuidado...
a culpa é do editor de texto do blogger que não tem corrector ortográfico, o que teria evitado os "voçês" o teu "albumzinho"!

Enfim...

Abrasso de quem não tem mp3 (no me gusta, um dia explico-te porquê!?)

Anónimo said...

Espero que o "Profeçor" seja na galhofa...
Porquê Paquete?!?!
Viva a Briosa, não é todos os dias que se ganha 2-0 (aí prós teus lados o ppl tá desanimado?)

Beijinhos a todos/as