tinha quatro, cinco, seis anos. por aí. os meus pais tinham uma carrinha volkswagen passat de um verde cujo mau gosto não era nada duvidoso. não me lembro de muito, mas lembro-me de viagens entre lisboa e beja demorarem horas intermináveis. lembro-me de fixar uma estrela e tentar segui-la no céu escuro. lembro-me da emoção que eram as luzes da ponte 25 de abril e do barulho que fazia se fossemos naquela faixa que não é de alcatrão. mas acima de tudo lembro-me que havia uma cassete. uma cassete preta e laranja que rodava sem parar durante toda a viagem. e a cassete preta e laranja cantava músicas do zeca afonso. não fazia a mínima idéia de quem era o zeca afonso, mas lembro-me do vila faia, do minha mãe quando eu morrer, do venham que eu não vou só, do samacaio deu à costa. não sei porquê. mas lembro-me que gostava daquilo. pouco depois a carrinha volkswagen passat verde transformou-se num seat ibiza preto. não sei em que se terá transformado aquela cassete preta e laranja mas sei que só voltei a ouvir aquelas músicas talvez com o dobro da idade, já sob a forma de compact disc. e só mais tarde percebi o quanto queriam dizer.
e até prova em contrário - que ainda não surgiu passados quase vinte anos - a vida não passa disso mesmo. uma velha e feia passat verde com uma cassete do zeca afonso.
1 Comment:
Muito bom.
Grande abraço
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