terça-feira, junho 12, 2007

11 de Junho

Não poderia gostar menos deste* feriado. E, por definição, de todos os feriados nacionais e nacionalistas. A Raça mascarou-se de Comunidades. Mas o espírito mantém-se. A enaltação de uma pátria pútrida, ferida, triste e rancorosa. Serei pouco ou nada patriota? Nada. As fronteiras? Nos riscos do chão de hoje só vejo as guerras de ontem. A sorte de quem chegou primeiro ao lado certo do rio. A morte dos fracos que riscaram com o próprio sangue as alfândegas dos fortes. A divisão entre os dois lados da riqueza. A exploração politizada dos que pensam que um dos lados lhe pertence. A bandeira? Um pedaço de pano. Uma boa desculpa para tapar aquele vaso cuja planta já secava na varanda. Um orgulho hipócrita e desonesto. Uma boa desculpa para umas imperiais a mais de dois em dois verões futeboleiros. Camões? O bravo povo lusitano que ele outrora cantou, hoje o choraria. A língua, a música, as palavras, a comida. Isso sim, se devia celebrar. O que nos une, e não o que separa. Não consigo ver um único factor de união em tudo o que supostamente se celebra, no dia em que é uma boa desculpa para o presidente ir fingir que se preocupa com todo o Portugal.

*vocês perceberam.

13 Comments:

Anónimo said...

estamos a ser um bocado radicais...
um país é feito de pessoas e lembrar que vimos todos do mesmo sítio, com actos de coragem mas outros de cobardia, com glórias e derrotas... faz-nos lembrar que os ciclos se sucedem e há sempre um melhor para vir!
ânimo! afinal os nossos ascendentes são heróis do mar!

Anónimo said...

espanhol de merda

Anónimo said...

espanhol é sempre aquele insulto básico a que se recorre qd alguém cospe na bandeira.

Vítor said...

Exactamente. Nunca se pode generalizar a vasta globalidade de uma questão imensa como esta, a da carga étnica que espelhámos através da bandeira nacional. Pelo contrário. Agora falando de pessoas e de países: eu, por exemplo, não gosto de portugueses mas, como compensação, gosto de portuguesas. Deverá ler-se que gosto de todas a portuguesas? Não, de maneira nenhuma. Deverá ler-se que não gosto de todos os portugueses? Não, de maneira alguma. Por isso repito: não repito nada. Até porque, creio, fui já suficientemente claro; discordando um pouco da leitora Rachel e concordando um pouco com o autor João.

Vítor said...

Este comentário foi removido pela família do autor

Anónimo said...

O raciocinio do autor não será fácil de entender por "um gajo normal". Quero dizer que concordo com a filosofia do texto, mas não sei o que é "um gajo normal". Parabéns João.

João Gaspar said...

A questão não é que eu não goste de Portugal. Que até gosto. O que não gosto é desta celebração desta Pátria. E a indignação estende-se a todas as celebrações do género, transversais às Pátrias Queridas por esse mundo fora.

A questão é muito menos personalizável em Portugal (que, repito, até é jeitoso - não embalo no discurso negativista do que é de fora é que é bom) e muito mais utópica e universal.

Num ideal seríamos todos apátridas, sem ricos a explorarem pobres, sem glorificações de façanhas (ou patranhas), que, por puro acaso, foram levadas a cabo por ascendentes nossos, sem fronteiras, ou apenas com aquelas definidas pela comunicação/incomunicabilidade entre os povos.






PS(só para o gajo que...): antes espanhol que polaco.

Rui said...

Eu só não gosto de bacalhau com natas. Enfim, gosto só um bocadinho.

Anónimo said...

caramba, com essa do polaco quilhaste-me...

Jp said...

Epá. insulto barato... Polaco, Gaspar?? Portugal não merece que nos exaltemos por tão pouco!

Concordo contigo jovem, este país está pelas ruas da amargura e celebrá-lo assim não faz sentido. É como fazer uma festa porque o défice desceu de 12 para 7%, nem sequer devia haver défice se os decisores fossem sérios, mas isso já é outras história....

É muito fácil dizer que isto é uma merda, que a culpa é de todos e de ninguém, mas de que modo é que isso eleva o país??

Agora, dando todos um pouco do que pudermos para o melhorar já nos dá o direito de mandar postas de pescada... Eu faço por isso, especializo-me numa área de necessidade (não há cá modéstias para ninguém, só a verdade interessa!) para que o país cresça, porque, verdade seja dita, são os melhores que lideram o caminho....

Mas se após este tempo todo o país não nos quiser....

Aí puta que pariu, há muitos países que nos receberão de braços abertos!

Tenho dito.
Viva Portugal, o maior cantinho de bosta da Europa

João Gaspar said...

Jp:

Não sei o que é que tu leste. Mas arriscava-me a dizer que não percebeste nada do que escrevi. Relê lá o meu comentário, pelo menos...

Eu não digo que não faça sentido celebrar o país por ele "estar assim" (ou palavras tuas parecidas). Nem digo que seja bosta ou merda, ou não queira aqui estar, nem falo de défices (ah, by the way: ESTOU-ME A CAGAR PARA O DÉFICE!). Digo é que não faz sentido celebrar. Ponto. Independentemente do presente. "Estamos" a celebrar um passado que não faz sentido ser celebrado. Até podíamos ser o país mais próspero do mundo. A minha questão é utópica (acho que já tinha referido este aspecto) e não tem nada - ou muito pouco - a ver só com Portugal. O facto de existir uma fronteira e uma bandeira não devia ser motivo de orgulho, nem de celebração. E não me apetece explicar tudo outra vez.


PS: ah, e também não me parece que tenhas percebido a piada/ o insulto... a piada ligeiramente insultuosa, vá... do "polaco". mas se quiseres eu depois explico.

Anónimo said...

antes polaco que perro espanhol.

Anónimo said...

Sou portuguesa? Sou (é o que consta no BI. Gosto de Portugal? Gosto. É um país engraçado (que é uma palavra que empregamos muito quando se quer descrever algo que não sendo perfeito nem fantástico tem os seus encantos). Gosto de ser portuguesa? Não sei o que isso é.Se for idolatrar uma bandeira com cores demodé (perdoem-me o estrangeirismo nesta dissertação acerca da nacionalidade)que este ano usa-se mais o verde caqui e ó magenta e cantar o hino com orgulho acho que não. De repente pensei o que seria feito da bandeira se se pedisse a algum estilista para modernizá-la. Se fosse a Fátima Lopes continuaria a ser vermelha mas com corte mais assimétrico e muito mais pequena, versão pocket. Ó jõao depois deixavas de poder proteger as plantinhas do sol!!Interpretem esta última frase como um comentário meio tolo de alguém que teve uma insónia e está a escrever às sete da manhã de um sábado em que poderia dormir até ao meio-dia. Continuando, continuo com dúvidas acerca do que é ser português? É continuar a ter uma instrução escolar baixa e uma literacia mais diminuta ainda? É cuspir para o chão expulsando o muco preso nas entranhas no meio da rua sem querer saber se vem alguém ao lado, atrás ou pior ainda á frente? É deixar o saco do lixo (daqueles bons da Vileda que dizem ecológicos na embalagem que dão logo a imagem de alguém preocupado com o ambiente)ao lado do caixote do lixo por preguiça de abrir a tampa ou apenas por estupidez?É idolatrar um passado glorioso de façanhas marítimas que, perdoem-me o atrevimento, considero apenas uma história contada em nosso favor, ocultando o sangue esplahado?É achar normal que o telejornal nesta época abra com dezenas de notícias sobre contratações de jogadores de futebol de nomes surreais e que falam sempre deles na terceira pessoa quando noutros desportos há portugueses a conquistar medalhas e ninguém é informado? Se for um pouco de tudo isto e de muito mais afins que vejo todos os dias à minha volta confesso que não gosto de dizer que sou portuguesa. Mas gosto de Portugal.

PS - a esta hora aposto que estás a pensar "valeu o esforço de tantos anos a bombardeá-la com as minhas dissertações, esta rapariga faz-se".