Durante semanas (quantas? demasiadas.) bombardeiam-nos com horas e horas de informação em telejornais nacionais, capas e florestas inteiras de jornais com dia-a-dias de campanhas, entrevistas escalpulizadas ao pormenor sem qualquer conteúdo a todos os candidatos, transformam umas eleições intercalares para uma Câmara Municipal em eleições Autárquicas com carácter nacional, sob a clássica desculpa de que Lisboa é o microcosmos representativo da política portuguesa. Discutem-se nadas, dissecam-se insinuações, intrigas, siglas, graffitis, fados e fantochadas. Branqueiam-se as corrupções como se tivesse sido o Sampaio a dissolver o executivo. Fecham-se os olhos a ultranacionalismos sob a égide da liberdade de expressão. Transformam-se as eleições numa luta do povo. Renovam-se os slogans de cartões ao governo, as eleições locais têm sempre/não têm nunca (riscar o que não interessa) leituras nacionais conforme a cor, o dia, o líder da oposição (quando existe, o que não é o caso) ou o estado do tempo. E nós ouvimos. E nós comemos isto tudo. E nós calámos.
E à falta de "novos desenvolvimentos no caso da pequenina Maddie", em época de defeso em que o Benfica ainda não começou uma série que se adivinha magnífica de jogos com toda a terceira divisão suiça, lá fomos todos durante semanas conhecendo os problemas de Lisboa. Que são os problemas de todos. Todos conhecemos o drama do Bairro dos Loios. Somos amigos íntimos do Arq. Manuel Salgado. Tratamos por tu o Zé. Aprendemos o significado das siglas. Andámos de bicicleta entre o Padrão dos Descobrimentos e a Praça Sony. Respirámos o ar puro do Corredor Verde e juntámos +1 à Portela. Indignámo-nos com parte de trás da Frente Ribeirinha. E com a ajuda de todos, resolveríamos estes problemas que são de todos. De todos nós. A vida de um país melhora com uma Câmara de Lisboa disposta a resolver os problemas dos 10 milhões de lisboetas.
E esta é a questão nacional. Estratégia: o PS perde, o governo perde e a vida dos 10 milhões de portugueses melhora. O que é que correu mal? O sol, a praia. A culpa foi do Sol. Mas afinal choveu. Pois, é isso. A culpa foi da chuva. Que nós não temos culpa. Nós estamos aqui para resolver os problemas dos 10 milhões de lisboetas. O Sol, perdão, a chuva, e depois o Sol outra vez é que não deixaram.
Se o PS tivesse perdido as eleições, os 10 milhões de lisboetas teriam ganho. Se o PS tivesse perdido as eleições, era ver Rosetas e Carmonas, Negrões e Marques Mendes (este é lixado pôr no plural), Zés e PêCês, Telmos e Portas a clamar por vitória, a pedir cabeças de ministros, a falar em cartões (e não tem nada a ver com o Zéquinha) ao Sócrates, a proclamar a vitória do povo sobre o governo opressor e autoritário. E, claro, a tirar as tais "ilações nacionais". Mas como o PS não perdeu, estas eleições são apenas locais. Nem votou assim tanta gente. Se calhar nem se passou nada aqui. E é um escândalo - um escândalo - agora vir malta de outras terras festejar a vitória numas eleições de Lisboa, que não são eleições nacionais. Apenas dizem respeito a Lisboa e aos lisboestas. 200 mil e não mais do que isso. Os restantes 10 milhões não tinham nada que ver televisão, ouvir rádio e ler jornais e ficar bem informados. Culpa vossa. Nossa, claro.
É claro que é ridículo o encher da sala dos festejos à custas de excursões peregrinas que vieram à sandocha. Mas de um ridículo vergonhoso. De um ridículo que espelha a podridão que grassa no interior do(s) partido(s). Mas de um ridículo tão óbvio que até fica mal dizê-lo mais vezes. Ridículo.
E prontos. É favor descer o pano, fechar a tenda e calar os palhaços. Foi bom, mas acabou-se. A silly season volta a ser o que era, espera-se. Que isto num ano sem Europeu nem Mundial nunca se sabe.
*Mas o que me fode mesmo é a Argentina ter levado 3 do Brasil.
E à falta de "novos desenvolvimentos no caso da pequenina Maddie", em época de defeso em que o Benfica ainda não começou uma série que se adivinha magnífica de jogos com toda a terceira divisão suiça, lá fomos todos durante semanas conhecendo os problemas de Lisboa. Que são os problemas de todos. Todos conhecemos o drama do Bairro dos Loios. Somos amigos íntimos do Arq. Manuel Salgado. Tratamos por tu o Zé. Aprendemos o significado das siglas. Andámos de bicicleta entre o Padrão dos Descobrimentos e a Praça Sony. Respirámos o ar puro do Corredor Verde e juntámos +1 à Portela. Indignámo-nos com parte de trás da Frente Ribeirinha. E com a ajuda de todos, resolveríamos estes problemas que são de todos. De todos nós. A vida de um país melhora com uma Câmara de Lisboa disposta a resolver os problemas dos 10 milhões de lisboetas.
E esta é a questão nacional. Estratégia: o PS perde, o governo perde e a vida dos 10 milhões de portugueses melhora. O que é que correu mal? O sol, a praia. A culpa foi do Sol. Mas afinal choveu. Pois, é isso. A culpa foi da chuva. Que nós não temos culpa. Nós estamos aqui para resolver os problemas dos 10 milhões de lisboetas. O Sol, perdão, a chuva, e depois o Sol outra vez é que não deixaram.
Se o PS tivesse perdido as eleições, os 10 milhões de lisboetas teriam ganho. Se o PS tivesse perdido as eleições, era ver Rosetas e Carmonas, Negrões e Marques Mendes (este é lixado pôr no plural), Zés e PêCês, Telmos e Portas a clamar por vitória, a pedir cabeças de ministros, a falar em cartões (e não tem nada a ver com o Zéquinha) ao Sócrates, a proclamar a vitória do povo sobre o governo opressor e autoritário. E, claro, a tirar as tais "ilações nacionais". Mas como o PS não perdeu, estas eleições são apenas locais. Nem votou assim tanta gente. Se calhar nem se passou nada aqui. E é um escândalo - um escândalo - agora vir malta de outras terras festejar a vitória numas eleições de Lisboa, que não são eleições nacionais. Apenas dizem respeito a Lisboa e aos lisboestas. 200 mil e não mais do que isso. Os restantes 10 milhões não tinham nada que ver televisão, ouvir rádio e ler jornais e ficar bem informados. Culpa vossa. Nossa, claro.
É claro que é ridículo o encher da sala dos festejos à custas de excursões peregrinas que vieram à sandocha. Mas de um ridículo vergonhoso. De um ridículo que espelha a podridão que grassa no interior do(s) partido(s). Mas de um ridículo tão óbvio que até fica mal dizê-lo mais vezes. Ridículo.
E prontos. É favor descer o pano, fechar a tenda e calar os palhaços. Foi bom, mas acabou-se. A silly season volta a ser o que era, espera-se. Que isto num ano sem Europeu nem Mundial nunca se sabe.
*Mas o que me fode mesmo é a Argentina ter levado 3 do Brasil.
6 Comments:
Tá calado, não digas disparates!! Quem me dera a mim um boletim de voto onde pudesse por uma cruz simultaneamente no MRPP e no PP e dizer que estava indeciso! E não digas mal dos pequeninos, que se não fossem eles, não nos tínhamos divertido (lembram-se do Telmo e dos grafittis?)... Dos grandes podes dizer mal, já são crecidos para se defenderem sozinhos...
Eu não disse mal dos pequeninos, mas da cobertura manifestamente exagerada que foi dada a isto tudo. E inequivocamente alienada dos reais interesses do país, como os próprios lisboetas o acabaram por mostrar ao marimbar para o boletim na urna.
O mediatismo tem destas coisas. E uma das consequências é o imediatismo (não resisti ao jogo fácil de palavreado) e o carácter efémero da memória.
Se tivesses votado nas legislativas, lembravas-te que tinhas tido um boletim de voto com o MRPP e o PP, pá! Se por acaso não disfrutaste dessa oportunidade, tá quase aí 2009.
Um abraço.
E digo mal de quem quiser, a mim ninguém me ca...!
Grande texto!
Talvez tenhamos em parte a classe jornalística que merecemos. Previsível, provinciana e subserviente ao que é de mediático e imediato (ahh, o fantástico jogo de palavras.). De qualquer maneira, há algo de caridoso na expressão corriqueira “Silly Season”, não será o ano inteiro? Talvez não. Mas apeteceu-me exagerar para parecer superior a isso tudo. O Vasco Pulido Valente iria certamente concordar.
Abraço.
O Vasco Pulido Valente iria certamente concordar? Ó diabo. Tenho que começar a autocensurar-me então! ;)
"silly season" é efectivamente caridoso. é miminho, nalguns casos. a gente perdoa os maus filmes, as não-notícias, as reposições de séries e concursos idiotas, a interrupção daquela série que estavamos a acompanhar, as ultrapassagens nas curvas da nacional... (continua indefinidamente) porque é a silly season. Agora isto? Isto que aqui se passou... Já não há pachorra. E não tem desculpa possível tanta alarvidade e falta de interesse junta.
Abraço!
Afinal é aqui a festa: A Argentina é o Brasil de Portugal.
A Argentina o quê?
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