terça-feira, julho 31, 2007

o perigoso jogo da sedução

Via bbba, chego a um pedido de ajuda da Pitucha. A Pitucha quer dicas sobre a arte da sedução. É urgente. Corrigo, era urgente às 9:10 am (hora que deduzo ser de Bruxelas, devido a um raciocínio brilhante que envolve o título do blogue da Pitucha e a indicação de localização da própria. Enfim, coisas ao alcance de uns poucos predestinados) da manhã de dia 30. Segunda-feira, portanto. São neste momento 2:12 am, hora de Lisboa - menos uma hora nos Açores - de dia 31, pelo que deduzo ter chegado tarde. Quer dizer, neste preciso momento já não são 2:12 am, visto que eu já acabei de escrever o post e tu já o estás a ler, mas terás que fazer fé no que eu te digo e confiar que escrevo a presente missiva às 2:12 am. Ou talvez às 2:13 am, visto que me estou a alongar sem dizer absolutamente nada de novo ou relevante. O que, não deixando de ser uma arte e, portanto, nobre, cumpre o imoral paradoxo de me aproximar, em tese, de um político. Nojo esse que preferia não estar a vivenciar neste preciso momento em que por acaso talvez já sejam 2:14 am. Adiante. Não obstante o suprareferido, teria sido de qualquer modo indiferente correr a tempo em auxílio da Pitucha. Nada do que eu possa aqui dizer dizer sobre sedução, arte que, manifestamente, não domino em termos práticos, se revelará útil para a Pitucha. O que torna pouco lamentável não ter reagido com a urgência que o caso, ou melhor, a própria, pedia. No entanto, e por pura irresponsabilidade, infantilidade, falta de objectivos na vida, e acima de tudo porque a cerveja só vai a meio, continuo. E, se me permitem, inclusivamente prossigo. A minha relação com a sedução é uma relação de puro medo. Tenho medo da sedução. Nem inveja, muito menos indiferença, nem tão pouco respeito. Medo. Porquê? Porque a sedução é um fardo, que pesa sobre os ombros (levar ao colo faria mal à coluna) de uma camada da sociedade a que orgulhosamente pertenco, e a qual, carinhosamente, gosto de apelidar de: "malta que se senta num sítio e bebe uns copos e se está a cagar para a sedução". Ora, sucede que a sociedade impõe regras e condutas, desde o elementar "agitar antes de abrir" até à obrigatoriedade de sedução da malta que bebe uns copos, passando pela condenação moral e psíquica de quem, propositadamente, troca a ordem aos canais que a sintonização automática programara, colocando a tvi como 1, a rtp1 como 2, a rtp2 como 3, a sic como 5. O 4 fica com aquela chuvinha para enganar e dizer que não vejo a sic todos os dias a partir das 14h, em que pasta e muge um gajo careca apoiante do Isaltino Morais e a filha daquele ex-ministro, ex-secretário geral do ps, ex-futuro primeiro ministro, ex-cagando para o segredo de justiça. E nesta cruzada castradora das liberdades individuais, a sociedade leva a mal que haja quem se esteja a cagar para a sedução. É ofensivo para os bons costumes que um gajo queira simplesmente beber. Mas, e se é verdade que um gajo nunca quer só só simplesmente beber, a esparrela da sedução torna-se, ainda que inconscientemente, a muitos títulos, inevitável. E a tentaçao do perigoso jogo da sedução adensa-se dentro da cabeça como a irritante música do Mika, de cuja letra ninguém conhece o sentido, mas o caralho do ritmo fica ainda antes da primeira vez que o ouvimos. E esse ritmo da música do Mika, não é mais senão a sociedade a sussurar-nos: joga o jogo da sedução, olha a sedução, ai a sedução, é tão bom a sedução. Está bem que seja bom, mas eu tenho medo. É bom como jogar xadrez, mas eu só sei jogar damas. Não sei jogar xadrez, logo, especializei-me nas damas. Damas é um jogo mais básico. Não mete medo a ninguém. O xadrez requer muitos raciocínios cruzados, assim como a sedução. Antecipar jogadas do adversário, ultrapassar a barreira de peões, comer a rainha e fazer xeque-mate. Tenho medo do xadrez. Não sei jogar o jogo da sedução, logo, especializei-me em beber. E a sociedade reprime de igual modo um gajo que não quer seduzir ou um jogador de damas. Analogamente, idolatra os sedutores como endeusa os jogadores de xadrez. O jogador de damas é extremamente básico demais. É como o gajo que se senta e bebe. O sedutor, foi jogar xadrez e tentar comer a rainha. Quando digo que não quero saber jogar xadrez, o pensamento lógico do meu interlocutor é: pff, não sabes, né? É muito complicado! Quando digo que não quero sedução. Pff, o mesmo. Sempre pressionando, sempre empurrando o incauto alcoólico para as teias da sedução. É aqui que me assalta a maior dose de medo. Não sei jogar, o que é um bom ponto de partida para a derrota. A falta de arte, leva-me a que vá jogar mal. Envergonhado. O resultado mais previsível desdobra-se em dois ou três finais alternativos. a) ela não quer - volto a beber, humilhado. b) ela tem namorado, levo porrada - volto a beber, humilhado. c) até me safo, mas ela tem pila e bigode - volto a beber, humilhado. d) a minha namorada aparece, levo porrada - volto a beber, humilhado.
O resultado final é o equivalente a perder um jogo de xadrez sem ter sequer conseguido comer um peão. Humilhação total de quem não deu luta e sai do jogo sem qualquer dignidade. Daí o meu medo da sedução. Um misto de medo e preguiça. Se não vou comer um único peão para quê jogar zadrez, certo? Mas acima de tudo medo, porque mesmo que a minha namorada não apareça, há sempre no local a amiga de uma amiga de uma amiga de uma colega de uma prima de outra amiga que lhe vai contar, porque as mulheres (todas menos a que leêm este post) são umas vacas e gostam de contar essas merdas umas às outras. E, parecendo que não, ela tem um bíceps que aquilo de mão fechada e força bem aplicada é gajo para magoar.

Pitucha, se me estás a ouvir, acho que divaguei um pouco. Espero ter demonstrado a minha inabilidade para o jogo da sedução, apenas comparável à minha inabilidade para a colocação de vírgulas. Se por acaso está alguém com dúvidas e a pensar "ah, ele está-se a fazer de parvo e tal, seduz quem quer", tenho três - três - coisas a dizer: 1) obviamente, nunca nos cruzámos. 2) em menos de duas passagens de mão direita pelo cabelo consigo imitar os Beatles. E se elas gritavam que nem galinhas nos concertos, parece-me que tenho poucas possibilidades de vir a viver nos anos 60. 3) Se o movimento da mão for no sentido oposto, desde a testa até ao alto do cucuruto - termo técnico - e depois desde a nuca a subir até ao mesmo sítio, sou um Tony Carreira ao espelho. Estamos entendidos? Estou neste nível do jogo da sedução. Mas ainda me dizem: "Oh, João, mas tu até colocas as vírgulas de um modo impecável e irrepreensível!" Pois lá, isso é, verdade,


Então, posto isto, cá vai.
Pitucha, se me estavas a ouvir no parágrafo de cima, deduzo que continues. Como espero estar bem claro, sou a pessoa indicada para falar de sedução. No plano teórico, sou um autêntico Kasparov. E é com muitas das minhas convicções profundamente enraizadas nas próximas linhas que me arrisco a colocar três - ou quatro - situações possíveis de acontecer quando uma mulher seduz um homem:
1) a mulher aparece. já está.
2) se a opção 1 não resultou, esboçar um sorriso. já está.
3) se a opção 2 não resultou, tentar novamente a 1, pode ser que ele já não se lembre de ti. se ainda assim não resultar, o decote. não falha. o decote. e o sorriso. sorriso + decote. já está.
4) o gajo é maricas. ou então sou eu e estou com medo dos biceps da minha namorada.

that's it.
e deixo-vos com uma dica: o sucesso ilusório e o posterior efeito surpresa são tanto maiores quanto maior for o intervalo de canais só com chuvinha até aparecer a sic.
e por incrível que pareça, garanto-vos que já não são 2:12 am.
vírgula.

5 Comments:

Pitucha said...

Fabuloso! Fabuloso! E, agora não porque é cedo (8h20 de Bruxelas) mas logo seguirei o teu conselho e beberei. Assim como assim.
:-)
Beijos

magnuspetrus said...

Fico contente por o meu apelo ter servido de qualquer coisa

João Gaspar said...

Cheers!

Anónimo said...

pareces reprimido...
e quanto à tua namorada, parece assustadora!
melhor sorte nas próximas!

João Gaspar said...

Sou um medricas, é o que é!

;)