quarta-feira, novembro 14, 2007

em the brave one, uma jodie foster sublime e novamente oscarizável - tão oscarizável que nem deve ser nomeada - mata sem que as mãos lhe tremam por isso. há um pormenor interessante: comete vários crimes com um terço ao pescoço, em nome de uma justiça que não tem a ver estritamente com o seu caso pessoal de perda e raiva. uma justiça quase exterior ao seu próprio livre arbítrio. uma justiça que lhe é tão estranha quanto a pessoa em que se vai transformando e que, apesar de contra as leis da justiça, toma contornos de justiça divina. quase como se estivesse playing god, e que nos leva a empatizar com a personagem e as suas razões. a certa altura, oferece o fio com o terço e o único crime que comete sem ele não tem outra razão que não um sentimento pessoal de perda, vazio e vingança. mata em nome próprio e o crime parece tão justo quanto cruel, e tão ou mais justo do que os anteriores.


o filme - que é um dos filmes do ano - levanta várias questões bem mais pertinentes até, relacionadas com a transformação total de uma pessoa num ser até então estranho, a capacidade de superação de um episódio traumático, as reacções do ser humano em situações-limite, a ténue fronteira entre o bem e o mal, a noção de justiça.

mas a questão que me interessa é: cada um de nós tem o seu próprio terço, que nos protege e justifica perante o quadro de valores morais aos quais teimamos em obedecer. mas sem ele, por que razão mataríamos sem que nos tremessem as mãos?

7 Comments:

nuno said...

ia fazer um mau trocadilho com o livre arbítrio e o josé guímaro. parei a tempo.

Menina Limão said...

ainda não consegui ver o filme, raios. tenho lido do bom e do mau. acredito no bom e gostei do teu texto.

João Gaspar said...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Gaspar said...

acabei de me auto-censurar, carreguei no enter ou algo parecido antes de "publicar comentário" e saiu com as frases partidas ao meio e trocadas. se calhar acabara de inventar poesia e joguei fora.


dizia que o filme merece ser visto, quanto mais não seja pela interpretação. vou pouco ao cinema, mas não me arrependi do dinheiro que gastei neste bilhete, o que é raro.


e apesar de parado a tempo, o trocadilho é muito bom. gargalhei.

Menina Limão said...

vais pouco ao cinema? tau tau.

Menina Limão said...

vais pouco ao cinema? tau tau.

Anónimo said...

não é preciso bater duas vezes! ;)

sim, vou pouco ao cinema.
explico-me: o dinheiro que me roubam por um bilhete para ver um filme é escandaloso, passa meia hora de publicidade e/ou trailers de outros filmes nos quais, se eu estivesse (ou vier a estar)interessado teria escolhido (ou virei a escolher). não preciso que os senhores da lusomundo me digam que há um filme muito giro que vem aí a caminho, quando eu gastei o dinheiro de mais de cinco ou seis imperiais para ver o que está em exibição. e ainda menos preciso de ver anúncios ao sumol e ao blu-ray.

mas acima de tudo chateiam-me aquelas coisas que estão nas outras cadeiras, como é que é? as pessoas, isso. não gosto de ver filmes com outras pessoas. quando vou ao cinema, vou à meia noite (ou à tarde) e nunca ao filme que acaba de estrear. tudo o que seja mais de cinco pessoas na sala já me incomoda. enfim, sou um bicho estranho. mas por tudo isto, prefiro sem dúvida nenhuma, a televisão e o dvd. estou-me nas tintas para a actualidade dos filmes.

ps: gosto de ver o filme sozinho, ou com outra pessoa no máximo.
quando quero comungar (também) com o resto do mundo de uma experiência artística, vou a concertos, como é o caso do dos editors, que by the way, explico amanhã ou depois o bom, muito bom, que foi.


tau-tau, dói-dói.


joão.