sábado, novembro 10, 2007

qualquer dia peço o extracto de conta e sai-me um extracto de aloe vera.

o carro azul, branco e vermelho liga as sirenes e manda-me encostar em local cuja permanência de veículos que não táxis é proibida. pergunto se é mesmo ali que os benfeitores me querem. encosto e desligo o telefone. sorrio e providencio os meus documentos, mas os da viatura - que podia ter sido roubada - não foram necessários. afinal, já cometera o crime de falar ao telemóvel parado num semáforo vermelho (aquela cor muito parecida com o encarnado, se estiver alguém de cascais a ler) e as autoridades são compreensivas para com o cidadão-criminoso. apesar de compreensiva a antipática agente, cabelos louros na casa dos quarenta, avisa-me que me vai autuar. respondo que não encostei para outra coisa. busco em vão um sorriso. um esgar de simpatia. busco em vão e desisto rápido. resigno-me. o outro agente, macho, troça com o patife. faz pouco do facto do patife se preparar para ser enrabado no valor de 120 euros. não me resigno e respondo com insolência adolescente. já não procuro passar um bom bocado na companhia dos simpáticos amigos protectores da sociedade, envolvo-me com a minha condição de patife, faço cara de mau e já só espero que a agente seja célere no preenchimento das formalidades burocráticas que antecedem o enrabamento do patife. espio de soslaio o agente macho, em cuja facis distingo entretanto várias manchas que o vão denunciar no nosso próximo convívio. a insoência de adolescente revoltado vai-se esvaindo e começo a ignorá-lo. [só não choro porque não penso logo ali na quantidade assombrosa de cerveja que era capaz de consumir com tão bárbara quantia, nem no dvd do seinfeld, com todas as séries completas e imensos extras inéditos, nem no concerto dos editors do próximo dia 16 no pavilhão do restelo. lembrara-me eu de semelhantes cálculos desfeitos e ter-me-ia esvaído em lágrimas que nem bebé a lutar desesperadamente pelo gelado roubado. 120 euros são mais 120 euros do que o valor do subsídio de desemprego a que tenho direito. e isso, parecendo que não, faz alguma mossa no orçamento para os dias vindouros. mas o patife merece, ai se merece.] espero simples e silenciosamente a hora da injecção letal. confirmo enrabamento. verde-código-verde. ah, o bandido aprendeu a lição. a autoridade cumpre o seu dever. a sociedade agradece. o patife também, pela benevolência demonstrada e pela modernidade dos tempos, que crimes desta índole, no tempo dos simpáticos agentes, não se quedariam por menos de duas ou três noites da choldra. a pão e água. e obrigado a ver os malucos do riso, era o que o patife merecia. assim, ficámo-nos por um enrabanço no valor de 120 euros.

numa primeira análise da situação também me pareceu exagerado tamanho aparato policial e um castigo pecuniário desta ordem. eu pensava que tinha sido multado por falar ao telémovel enquanto conduzia. mas afinal, é de louvar a determinação policial na pressecução heróica e extremínio dos males que abalam os pilares de todo um estado de direito, porque afinal eu não fui multado por falar ao telemóvel enquanto conduzia, fui autuado por utilização e manuseamento de aparelho radiotelefónico durante a marcha do veículo. e para isso, meus amigos, tudo o que seja menos que a pena de morte é coisa pouca.

o mais irónico não era ter auricular no porta bagagens, ou preparar-me para estacionar em menos de quinhentos metros. não, isso é apenas azar e bastante parvoíce. o mais irónico é que no extracto bancário, fiz uma compra de 120 euros.

7 Comments:

nuno said...

ao menos que estivesses bem bêbado. isso sim, era de homem.

Menina Limão said...

não sei por onde andaste nem o que fizeste, exceptuando namorar com duas máquinas simultaneamente, mas o que quer que tenha sido fez-te muito bem. os últimos posts são escrita deliciosa. devias aventurar-te mais vezes em textos com um mínimo de 6 linhas.

Jp said...

"Vai pagar com cartão ou tem aí 120 notas de 1€?". Agentes da autoridade assim mereciam cair de cú em cima do cacetete...
Acho que andar de binóculos e conduzir ao mesmo tempo também dá multa (porque para te ver 4 carros atrás só de binóculos!), mas quem multava esse machão?
Enfim, um bom regresso a Coimbra. Parece-me que vais começar a desaparecer daqui. Não fosse uma certa jovem e acho que te veríamos com a frequência que o Ferreira vem cá...

Isto há lá merdas...

João Gaspar said...

soeiro:
bom regresso a coimbra?
já saí de coimbra na sexta feira, mas obrigado.

vou começar a desaparecer daí?
já começei a desaparecer daí vai para dois anos, mas ainda bem que notas agora! ;)


nuno: estava sóbrio que nem um merdas. bêbedo tá o soeiro.


menina-limão:
para poder contrariar-te teria de ler o que escrevo, coisa que, por uma questão de princípio (e preguiça) não faço. principalmente quando saem posts com mais das 6 linhas.

Anónimo said...

Isto há lá coisas...

Jp said...

Sim, estou bêbado.
Quem me dera que fosse o álcool.
Não percebeste o que escrevi, depois em pessoa explico.

Rach: Há lá mesmo coisas...

João Gaspar said...

eu também estou bêbedo.

agora já vou percebendo.

nevermind.