éramos jovens. errávamos errantemente. ríamos muito, mas não sabíamos por quê. a vida ameaçava chegar a qualquer momento, como a chuva em dia de trovoada. o calor era um falso pretexto para o sufoco. respirávamos aquela imensa falta de ar. o passado estava morto, o presente envenenado e o futuro atrasado. a adolescência é um país estranho. primeiro estranha-se, depois estranha-se. a esperança era o mais perigoso dos sonhos. os sonhos, um jazigo de ingenuidades. promessas por cumprir que nunca chegaram a ser feitas. um pedaço de revolta à refeição; a desilusão para sobremesa. chamávamos memória às histórias que inventávamos. fotografávamos a saudade em cada ponto de fuga impossível. tivemos amores impossíveis, impossíveis de esquecer. a cada sorriso, duas lágrimas. fazíamos de conta que a intenção é que contava. ainda mal tínhamos vivido e já tínhamos esta mania de ir morrendo. e vamos. uns sacanas sortudos livraram-se disto tudo. e morreram, ou casaram, ou cresceram. mas nós chegámos a idade dos para quês. a revolta sabe ao mesmo, sem nunca se transformar em revolução. cantamos como quem chora, e choramos como quem chora. lembras-te, amnésia? a verdade é não percebíamos nada do que o kurt cobain dizia, mas percebíamos tudo o que o kurt cobain queria dizer.
quarta-feira, setembro 29, 2010
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