quinta-feira, novembro 29, 2007

a SIDA é fodida

A SIDA é fodida.
Mas ninguém quer saber porque a sociedade pensa que a SIDA é uma doença de putas, drogados e paneleiros. E quem sou eu para mandar palpites sobre o que eu acho que a sociedade pensa? João, muito prazer.

A SIDA é fodida, já disse. Já a luta contra a SIDA, nem por isso. É, sejamos simpáticos, fraquinha. Frouxa, torpe e, na maioria das vezes, pueril e ineficaz. A luta contra a SIDA em Portugal tem sido - e digo-o muita a sério - uma brincadeira.

A maioria das campanhas do suposto combate à SIDA pode ser englobada em dois tipos: aquelas que têm baixíssimos níveis de visibilidade e aquelas cujo nível de eficácia na transmissão da mensagem vai pouco além do risível. E ora vão alternando, ora acumulam ambas as qualidades.

Sei que já lá vão uns anos, e que os tempos eram outros, e que não se podia dizer tudo o que se queria nem como se queria. Mas uma das primeiras campanhas de que me lembro, da Abraço creio, constava de um desenho colorido com um jovem (ou seria um casal?) “a voar” em cima de um preservativo, com um fundo azul, a Lua e estrelas amarelas. Ora, o impacto teria sido muito maior se os utilizadores de preservativo tivessem idades compreendidas entre os 3 e os 11 anos. Entretanto mudámos de século mas as imagens continuam com um grau de impacto comparável, como podemos verificar no histórico de campanhas da Abraço.

Aos olhos da sociedade (que desde o início do texto continua a pensar que a SIDA é uma doença de putas, drogados e paneleiros), a Abraço tornou-se mais um símbolo do que uma prática constante e eficaz de prevenção. A Comissão Nacional de Luta Contra a SIDA em 2004 traçou um plano nacional, em que a teoria prevalece de sobremaneira sobre a prática. Nesse plano, traça metas para 2006 (ainda temos tempo, portanto) no âmbito da prevenção e acesso a tratamento de infecções com VIH/SIDA que, ou pecam por excesso de optimismo, ou são demasiado genéricos, ou alguém deixou o trabalho a meio.

Se nos campos da detecção e do acesso a tratamento se registaram resultados motivadores, em termos de divulgação da mensagem (o alvo deste texto), parece-me que não estamos muito longe de quase na mesma. O actual instrumento governamental na área – a Coordenação Nacional para a infecção VIH/SIDA, é igualmente contido nessa área.

A mensagem a passar, convenhamos, não é muito difícil de compreender. Basicamente: a SIDA é má, o preservativo é bom. E se o conteúdo se revela bastante simples o problema está, claramente, na forma como é apresentado. A Abraço existe “porque a SIDA existe”. Usa preservativo, é a tónica dos slogans ao longo dos anos. Protege-te, faz o teste. E não se passa muito destas cândidas palavras.

O ritmo a que as diferentes campanhas vão pingando também não ajuda muito ao estabelecimento de uma convicção na mente da população-alvo. Ou é nos dias 1s de Dezembro, ou nos dias do peditório nacional da Abraço que se fazem mais notar. Uma campanha mais eficaz teria que passar forçosamente por uma massiva e explícita intervenção de vários agentes (governamentais, figuras públicas, pessoas infectadas), envolvendo todos os meios de comunicação e dar assim uma valente marretada nas ignorâncias, tabus, preconceitos e discriminações associadas.

O tom, esse, agressivo. Com conversa de meninos está provado que não vamos lá. É certo que o facto de haver mais infectados pode querer (e parece-me claro que quer) dizer que há muito mais gente a fazer o teste. Não obstante, revela uma certa parte de fracasso nas políticas e nas campanhas levadas a cabo. A recente notícia de que Portugal é um dos países em que o número de novos infectados por transmissão mais aumenta prova-o inequivocamente. O mais recente relatório do Centro de Vigilância para a infecção VIH/SIDA (se não for o mais recente, let me know) data de Junho de 2007 e os dados vão confirmando a tendência de evolução dos últimos anos.

E o aumento da transmissão é sintomático da contínua prática de comportamentos de risco. E porque é que isto acontece? Entre outras coisas porque as campanhas são o que são. Quase sempre, uma merda. Doce, é certo. Mas uma merda.

Como faria eu uma campanha? Começava pelos slogans. Seriam rudes, sem meios palavreados inúteis. Claros, mas duros e precisos. Rudes e vis. Ou algo do género:

Preservativos: são do caralho!
(e além de o serem - literalmente - isto era dito pelos Gato Fedorento e estava garantido o sucesso)

- Usa preservativo, caralho.

(Uma miúda com cara de má a apontar para o preservativo):
- Põe-te no caralho!

Fode mas não te fodas!

(Imagem do preservativo)
Manda-o foder!

(Ou mais light)
Whisky antes, cigarro depois. Preservativo durante.

(Multidão a manifestar-se na Av. da Liberdade)
Preservativo sempre! SIDA nunca mais!




E/ou outros da mesma estirpe. Acho que perceberam a idéia. Mas duvido que a sociedade (que vai continuar a pensar o mesmo) o permita. Podemos ter avisos inofensivos e inúteis ou imagens chocantes e hipócritas nos maços de tabaco, mas sexo explícito e palavrões na publicidade é que nunca.

E uma campanha deste género chocava a sociedade? Não tenho dúvidas que sim. E dava bastante mais visibilidade à prevenção da infecção pelo VIH/SIDA? Pois dava. E descredibilizava a Luta Contra a SIDA em Portugal? Claro. Mas se há coisa de que a a Luta Contra a SIDA em Portugal precisa neste momento é de ser descredibilizada. É a primeira a ter que mudar se quer que as mentalidades da sociedade se transformem. Em termos individuais não duvido do esforço tremendamente louvável de inúmeros agentes, profissionais e não só, na Luta contra a SIDA, mas em termos colectivos, meus amigos, andamos a brincar às prevenções.



Só que eu posso dizer asneiras à vontade (excepto no jantar de Natal), mas a sociedade não, embora não cesse de as ir fazendo. Pelo que duvido que uma campanha deste género - ou doutro, meu deus, desde que seja boa e eficaz! - venha a surgir este ano ou esteja para breve em Portugal.



E assim estamos e assim nos vamos ficando. Porque a SIDA existe, é certo, mas como toda a gente sabe é uma doença de putas, drogados e paneleiros.

pausa para divulgação* (coimbra)

por falar em sida, e assinalando o dia mundial da luta contra a, em coimbra vai haver uma festa trans no sábado, dia 1. sim, também há iniciativas noutros dias. um ciclo de cinema, duas tertúlias subordinadas ao tema, uma no fórum fnac e outra na livraria almedina/estádio (com a participação do filipe nunes vicente) entre outras actividades consultáveis aqui. mas o que interessa é a festa trans, sábado à noite, na discoteca ar d'rato, às 23h. gala de transformismo, anuncia-se. o que é que eu acho? eu acho que é só uma desculpa para homens que gostam de se vestir como mulheres se vestirem como mulheres. e acho que a componente artística inerente à coisa descamba rapidamente numa larga noite de copos, maricadas e deboche sem fim. enfim, um espectáculo. pago um copo.

*[por pedido expresso e sob chantagem.]

ele também anda por aqui

acho que há mãozinha do santana lopes nisto de se ter que escrever vih barra sida*.


* [acabei de escrever uns bitaites sobre o assunto. como não tenho tempo de o escrever nem de o escarrapachar - termo técnico - aqui no dia devido, faço-o em breve. aparecerá um post algures acima deste que será depois, unicamente para efeitos de arquivo e assinalar da efeméride, datado de dia 1 de dezembro. o referido texto representará igualmente o maior número de linhas seguidas jamais escritas aqui. mais ou menos cerca de entre 80 e 1300, para ser mais exacto.]

falha na comunicação

fora de serviço. dirija-se ao blogue mais próximo.

quarta-feira, novembro 28, 2007

o chefe de culinária pontual

só cozinhava às 20h em ponto de caramelo.

não gosto nem um bocadinho do manchester united, mas admitamos que até para eles teria sido uma vergonha perder com um golo do abel.

AVISO: NÃO ESTRAGAR ESTE MAGNÍFICO POST EM BRANCO COM UMA FRASE DE MERDA. OBRIGADO.

terça-feira, novembro 27, 2007

o joão não gosta mas a ana grama

// THE LAST BAR // THE LAB RATS // LATER BATHS //
// SHARE LA BTT // THE LAB STAR // EARTH BLAST //
// HEART BLAST // THE ST. BAR, LA. // BEST TRALHA //
// BALT'S HEART // TRASH TABLE // HART BLEATS //
// HERB AT LAST // BARTH'S TALE // STEAL BARTH //
// BRASH LATTE // BLA THREATS // HATES BLART //
// AH, BLEST ART //

and so on, and so on...
please go on.
[post com o alto patrocínio inspirador d' o cigarro voa na sé.]

nasceu com o cu virado para a lua. morreu queimado pelo sol do outro lado da rua.

domingo, novembro 25, 2007

foi ao médico porque andava com dores na coluna de opinião.

andava tão viciado na internet que se despedia dos amigos com um: até log in.

metade dos meus amigos já tem um blogue. os outros cinco têm vida sexual.

coisas de domingo

dia de limpezas. a barra lateral foi actualizada. saíram links, entraram outros e virou o disco.

o mail (também conhecido por aquelas pessoas que dizem sítio da internet em vez de site como endereço de correio electrónico) continua o mesmo: declarações de amor, pedidos de casamento, declarações de irs, promoções de viagra, teses de mestrado, ameaças de morte, receitas de estupeta de atum, links para pornografia de qualidade, cobranças de dívidas, fotos da uma thurman, desejos de boa noite ou propostas de emprego a recibos verdes para issodepende@gmail.com.

ao meu funeral

eu, se puder, também não vou.

ao meu funeral

eu, se pudesse, também não ia.

hádes ter muitos amigos assim

não raras vezes sou acusado de ser mal-educado. mas sou apenas "socialmente estranho" (sic) e as pessoas tendem a confundi-lo com má educação. a verdade é que a maior parte das pessoas que conheço me causa a maior das indiferenças, muitíssimas parecem-me demasiado desinteressantes, meia dúzia delas repugna-me completamente. gosto de umas quantas, que por certo desiludirei na altura certa e acabarei só. já me disseram que ninguém há-de ir ao meu funeral. como se isso fosse uma coisa má.

coisas que reconfortam

estar demasiado alcoolizado é estar um bocadinho mais perto do meu sonho de adolescência: ser o tom waits.

tom waits, (looking for) the heart of saturday night

o principal problemas das pessoas é pensarem sobre o principal problema das pessoas.

bafejou o seu mau hálito certeiro na cara do inimigo, mais depressa do que este lhe conseguiu chamar sacripanta.

andava pelas horas da morte. atrasou o relógio.

sábado, novembro 24, 2007

já podemos jogar outra vez a este jogo?

1...2...3. a partir de agora quem linkar o abrupto, perde.

sexta-feira, novembro 23, 2007

escrever na atlântico é como ser primeiro-ministro. só é preciso ser de direita, andar por aí e esperar. mais tarde ou mais cedo acaba por ser a tua vez.

o seu nome é zé ninguém. zé por parte da mãe, ninguém por parte do romeiro.

piropo essencial

psst, ó miúda, já comeste banana hoje?

"hélá-hélá-ho-ooooo"
"ahó-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-yyyy..."
"hilla! hilla! hilla-hô!"
[álvaro de campos]


"gugu-dadá
gugu-dadá
gugu-dadá"
[micaela]

terça-feira, novembro 20, 2007

o mar tá bravo (ii)

a shyznogud quer saber o que é que eu fazia para brincar, quando era pequenino e antes de existir playstation. o que é fácil, porque nunca tive playstation. a infância passei-a a jogar ao berlinde. mas jogava-se a sério: ao perde, paga. ou, como se diz(ia?) em alentejanês, ao boga. quem perde, boga. anos de aperfeiçoamento encheram-me latas e latas com centenas de berlindes, ou - como se diz em alentejano - arraióis, na exacta proporção de vezes que ouvia a entidade maternal, porque os sapatos estão todos sujos de terra e as calças rasgadas nos joelhos. mas o berlinde era levado muito a sério, com aquela seriedade com que as crianças brincam (ouvi no outro dia alguém que já não me lembro na rádio - no programa do francisco josé viegas na antena 1 - a citar esta frase de alguém que também já não se me recorda). lembro-me que fazíamos o caminho escola-casa a jogar ao berlinde, competindo entre colegas e contando o número de vezes que se acertava num outro berlinde neutro (normalmente um maior, a designada bazuca) ao mesmo tempo que o encaminhávamos até ao destino, transformando assim dez minutos em mais de meia hora.


o resto da história é mais fácil de contar. com o passar do tempo passei o tempo a jogar à bola. obviamente na rua, no tempo em que as ruas tinham muitas pedras a fazer de postes das balizas, em qualquer lado, a qualquer hora. julgo ter passado mais tempo do meu tempo a jogar à bola do que a realizar qualquer outra actividade (sim, mais do que isso inclusive). quanto a novas tecnologias, e apesar de já estarmos a falar dos noventas, em beja o spectrum era toda uma instituição, mas eu jogava sonic na mega drive. gastava uns trocos nas máquinas com aquele jogo de futebol muito manhoso do itália'90 e jogava matraquilhos com a moeda de 25 escudos, mesmo depois de ter saído de circulação. mas acima de tudo preferia o ping-pong, modalidade à qual não me recordo de ter perdido mais do que uma ou duas partidas.

[adenda: tenho uma memória de merda. e super mário, pá. muito super mário.]

o mar tá bravo (i)

e sou apanhado pelas correntes. o andré desafia-me aqui em dose dupla. para desatar o primeiro nó, devo enumerar os 20 blogues que mais gente trazem a esta página. por agora a ignorância e a preguiça obrigam-me a adiar a resposta. não sei se há 20 blogues a mandarem visitores para o meu blogue, mas em breve investigarei o caso.

sou ainda instado a nomear os 5 filmes da minha vida. tarefa assaz árdua. sem pensar muito lembro-me de três, facto que só por si revela a importância que tiveram para a minha existência e por isso aqui vão:

mulholand dr. (2001), david lynch. pela surpresa com que me apanhou, pela história, pela magistral cena de cama, pelo silencio, no hay banda, pelo cowboy e por considerar o filme uma obra-prima de um mestre.

the shawshank redemption (1994), frank darabont. pela altura adolescente em que vi. pelo número absurdo de vezes que o voltei a ver. pelo tim robbins e, principalmente, pelo magistral morgan freeman. por um sem número de diálogos brilhantes, autênticas lições de vida. por dizer que "that's the beauty of music. they can't take that away from you".

kill bill (2003 e 2004), quentin tarantino. por tudo, pela experiência cinematográfica, por ser o melhor filme da minha actriz preferida, pela quantidade de sangue, pela forma única e sublime de filmar violência. e pelo diálogo final sobre super-heróis.

thin red line
(1998), terrence mallick. apesar do realizador, é (juntamente com o apocalipse now e o full metal jacket) um dos melhores filmes de guerra. e como um grande filme de guerra, não tem quase nada a ver só com a guerra. está ao lado de mystic river na galeria de grandes filmes sobre decisões humanas em situações extremas, no limite das fronteiras psicológicas que cada um de nós tem traçadas cá dentro.

[não consigo enumerar um quinto e, desse modo, parecer que consigo fazer isto. já me lembrei de mais de dez filmes só enquanto escrevi este post. por respeito aos outros todos, não vou ocupar a quinta vaga desta lista com um deles. até porque alguns dos que me surgiam destronavam facilmente estes quatro e teria que refazer o post todo.]



sexta-feira, novembro 16, 2007

daqui a um par de horas


when the time comes
you're no longer there
fall down to my knees
begin my nightmare
words spill from my drunken mouth
i just can't keep them all in
i keep up with the racing rats
and do my best to win
editors, the racing rats.

bússula [ou: olha que giro! o país não acaba no cacém]

na segunda-feira passada (e só porque o assunto me parece urgente apresso-me já a denunciá-lo) o senhor da antena 1 que diz como está o trânsito falou das habituais demoras: segunda circular, eixo norte-sul, a5, ic19, recta dos comandos. o senhor do trânsito da antena 1, que eu imagino confortavelmente instalado num estúdio de lisboa - apesar de, fenómeno curioso este, os senhores do trânsito nos fornecerem as informações sobre o mesmo tão depressa como se os interessados tivessem outra coisa qualquer para fazer, o que não se percebe. uma vez que há "filas" e "demoras" e o trânsito "se processa com lentidão" e "dificuldades", como é óbvio, não há razão que justifique a leitura tão apressada; mas sobre este fenómeno debruçar-me-ei (com cautela, não vá cair) com a profundidade* que merece em tempo apropriado - por ora dizia que o senhor do trânsito da antena 1, que eu continuo a imaginar confortavelmente instalado num estúdio de lisboa, terminou a intervenção passando para a situação no sul do país, nomeadamente com um acidente entre um pesado e dois ligeiros em arronches.

[não ouvi tudo o que o senhor disse - ou na íntegra, como sói dizer-se na rádio - mas deduzo que tenha ainda acrescentado a situação do tráfego a norte, nomeadamente nos principais acessos ao funchal.]




* após uma genial piada quanto à possibilidade de cair aquando do debruçamento sobre o tema, numa alusão ao duplo sentido que o termo debruçar encerra, remeto para a palavra profundidade, envolvendo o raciocínio supraprosado numa consistência teórica absolutamente extraordinária. ou então foi coincidência e se calhar precipitei-me**.

** mas sempre em grande profundidade, claro.

o chefe de culinária: um auto-retrato

tinha cara de bacalhau, olhos de amêndoa, língua de porco e dois dentes de alho.

o chefe de culinária homofóbico

dizia que era muito maricas fazer pézinhos de cu entrada.

in the back of my mind
all i feel is mistrust,
in the back of my mind
all i see is the dirt,
segregation of thoughts,
ideals turning to dust.

where some houses once stood,
stands a manwith a gun,
in some neighbourhood
a father hangs up his son,
in the back of my mind.

untitled, ian curtis.

quinta-feira, novembro 15, 2007

empty bottles. vaig memories of a
place i've never been.
stranger in the mirror who looks
like someone i've never seen.

sunday morning, ian curtis.

love will tear us apart*

* inevitável

(não continua)

era uma vez um palhaço, com cabelo palha d'aço.

e a caravana a anunciar
que o circo chegou à saudade.

quarta-feira, novembro 14, 2007

não sei se é mais parvo tantos hífens no mesmo texto ou a palavra "gnu" em itálico. ou um título tão grande.

o mundo - e isto parece-me absolutamente, indiscutivelmente e mais um ou outro advérbio de modo aqui aplicado de modo a que o corrobore, consensual - está perto do fim. um fim que chegará antes que o al gore, a energia eólica ou os bio-combustíveis sejam capazes de nos salvar. a humanidade - termo assaz ambicioso que, em sentido lato e não figurado, designa todos os elementos da espécie humana excepto os chineses, e pulgas me infestem este corpinho se há aqui um pingo que seja de xenofobia, isto é assim e pronto, porque no final ficarão as baratas e os chineses, cuja estratégia de povoação do planeta em manada qual gnu a fugir dos crocodilos os fará sobreviver quando só as baratas forem alimento disponível - definhará em breve às mãos da escabrosa destruição do ambiente, da guerra, do aumento do preço do petróleo ou, se quisermos ser alarmistas, de males maiores como os comunistas, o regresso do santana lopes e o aumento do preço da castanha assada para quatrocentos paus a dúzia (pelo menos ali em frente à brasileira - o café, não a marcineide - ontem por volta das seis da tarde). toda a sociedade tal como a conhecemos, assim como qualquer amostra de civilização, desaparecerão para todo o sempre e por mais alguns anos até. os pilares fundadores da convivência fraternal entre os povos ruirão irremediável e irreversivelmente. dir-me-á a perspicaz, atenta, céptica, sensata e positivista leitora que há salvação, não só etérea como manifestamente física e real, que a paz se sobreporá, que a poluição cessará e que o lince ibérico se safa, que o cláudio ramos não voltará a falar em público, que os criminosos serão julgados e que este calhau pseudo redondo embrulhado em placas tectónicas será o palco da nossa peça por muitos milhares de milhões de anos, que respiraremos saúde e conviveremos na mais harmoniosa luxúria e sob o efeito das mais variadas drogas em breve legalizadas. eu digo que não, que gostei muito do seu discurso, cara interlocutora imaginária, mas que não. não temos hipótese. isto está tudo lixado. e não que eu precise de provar o que digo - afinal fui eu que a imaginei, cara interlocutora, e não o contrário - mas digo que o paco bandeira lançou um cd novo, se porventura dúvidas ainda houvesse.

prefiro ser um objecto perdido do que um abjecto achado.

manifesto anti-oreo


em the brave one, uma jodie foster sublime e novamente oscarizável - tão oscarizável que nem deve ser nomeada - mata sem que as mãos lhe tremam por isso. há um pormenor interessante: comete vários crimes com um terço ao pescoço, em nome de uma justiça que não tem a ver estritamente com o seu caso pessoal de perda e raiva. uma justiça quase exterior ao seu próprio livre arbítrio. uma justiça que lhe é tão estranha quanto a pessoa em que se vai transformando e que, apesar de contra as leis da justiça, toma contornos de justiça divina. quase como se estivesse playing god, e que nos leva a empatizar com a personagem e as suas razões. a certa altura, oferece o fio com o terço e o único crime que comete sem ele não tem outra razão que não um sentimento pessoal de perda, vazio e vingança. mata em nome próprio e o crime parece tão justo quanto cruel, e tão ou mais justo do que os anteriores.


o filme - que é um dos filmes do ano - levanta várias questões bem mais pertinentes até, relacionadas com a transformação total de uma pessoa num ser até então estranho, a capacidade de superação de um episódio traumático, as reacções do ser humano em situações-limite, a ténue fronteira entre o bem e o mal, a noção de justiça.

mas a questão que me interessa é: cada um de nós tem o seu próprio terço, que nos protege e justifica perante o quadro de valores morais aos quais teimamos em obedecer. mas sem ele, por que razão mataríamos sem que nos tremessem as mãos?

terça-feira, novembro 13, 2007

quis escrever um conto mas não estava pronto. ainda assim segui em frente e fiz o frete. e como quem conta um conto, acrescentei-lhe um tonto. como o tonto era à borla paguei a pronto mas sem desconto. fiquei então com um conto sem ponto mas com um tonto dentro do conto. um tonto qualquer ou um tonto diferente, o importante é que era um tonto no meu conto meio tonto. um tonto muito feio num conto que ficou a meio e nunca chegou ao fim. o tonto nunca falou, não cantou nem nunca chorou. a única coisa que o tonto fez em todo o conto foi rir-se de mim.

sofre de ócio, coitado, doença que contraiu após longa exposição a raios lazer.

segunda-feira, novembro 12, 2007

migração

este blogue muda-se para aqui.

sábado, novembro 10, 2007

qualquer dia peço o extracto de conta e sai-me um extracto de aloe vera.

o carro azul, branco e vermelho liga as sirenes e manda-me encostar em local cuja permanência de veículos que não táxis é proibida. pergunto se é mesmo ali que os benfeitores me querem. encosto e desligo o telefone. sorrio e providencio os meus documentos, mas os da viatura - que podia ter sido roubada - não foram necessários. afinal, já cometera o crime de falar ao telemóvel parado num semáforo vermelho (aquela cor muito parecida com o encarnado, se estiver alguém de cascais a ler) e as autoridades são compreensivas para com o cidadão-criminoso. apesar de compreensiva a antipática agente, cabelos louros na casa dos quarenta, avisa-me que me vai autuar. respondo que não encostei para outra coisa. busco em vão um sorriso. um esgar de simpatia. busco em vão e desisto rápido. resigno-me. o outro agente, macho, troça com o patife. faz pouco do facto do patife se preparar para ser enrabado no valor de 120 euros. não me resigno e respondo com insolência adolescente. já não procuro passar um bom bocado na companhia dos simpáticos amigos protectores da sociedade, envolvo-me com a minha condição de patife, faço cara de mau e já só espero que a agente seja célere no preenchimento das formalidades burocráticas que antecedem o enrabamento do patife. espio de soslaio o agente macho, em cuja facis distingo entretanto várias manchas que o vão denunciar no nosso próximo convívio. a insoência de adolescente revoltado vai-se esvaindo e começo a ignorá-lo. [só não choro porque não penso logo ali na quantidade assombrosa de cerveja que era capaz de consumir com tão bárbara quantia, nem no dvd do seinfeld, com todas as séries completas e imensos extras inéditos, nem no concerto dos editors do próximo dia 16 no pavilhão do restelo. lembrara-me eu de semelhantes cálculos desfeitos e ter-me-ia esvaído em lágrimas que nem bebé a lutar desesperadamente pelo gelado roubado. 120 euros são mais 120 euros do que o valor do subsídio de desemprego a que tenho direito. e isso, parecendo que não, faz alguma mossa no orçamento para os dias vindouros. mas o patife merece, ai se merece.] espero simples e silenciosamente a hora da injecção letal. confirmo enrabamento. verde-código-verde. ah, o bandido aprendeu a lição. a autoridade cumpre o seu dever. a sociedade agradece. o patife também, pela benevolência demonstrada e pela modernidade dos tempos, que crimes desta índole, no tempo dos simpáticos agentes, não se quedariam por menos de duas ou três noites da choldra. a pão e água. e obrigado a ver os malucos do riso, era o que o patife merecia. assim, ficámo-nos por um enrabanço no valor de 120 euros.

numa primeira análise da situação também me pareceu exagerado tamanho aparato policial e um castigo pecuniário desta ordem. eu pensava que tinha sido multado por falar ao telémovel enquanto conduzia. mas afinal, é de louvar a determinação policial na pressecução heróica e extremínio dos males que abalam os pilares de todo um estado de direito, porque afinal eu não fui multado por falar ao telemóvel enquanto conduzia, fui autuado por utilização e manuseamento de aparelho radiotelefónico durante a marcha do veículo. e para isso, meus amigos, tudo o que seja menos que a pena de morte é coisa pouca.

o mais irónico não era ter auricular no porta bagagens, ou preparar-me para estacionar em menos de quinhentos metros. não, isso é apenas azar e bastante parvoíce. o mais irónico é que no extracto bancário, fiz uma compra de 120 euros.

tenho uma foto muito gira para pôr aqui. é a foto de uma réplica de parte do muro de berlim, que está no museu do comunismo em praga. o local quase perfeito para diabolizar o lenine e exaltar o fim dos soviéticos. ao lado da réplica do muro de berlim do museu do comunismo de praga estava uma marreta (não, não estou a falar da miss piggy) que eu quero muito acreditar que podia ter utilizado para partir e trazer para casa o meu próprio pedaço de réplica do muro de berlim. não encontro a foto. mas também, como em quase tudo na vida chego atrasado e já é dia 10. e eu não faço ideia por que diabos ainda estou aqui a falar do muro de berlim.

quinta-feira, novembro 08, 2007

!

cabeça, tronco e membros.

?

de fósforo, da árvore e do congresso.

inserir vernáculo à escolha vírgula

não fui ver os interpol.

está frio nesta esplanada e ele não chega à hora combinada. um estranho pergunta-me se pode fazer a minha caricatura. rejeito. tenho um espelho lá em casa que me mostra a minha caricatura sempre que olho para ele. o pacote de açucar vazio e rasgado diz-me que um dia levo para casa um animal abandonado. e que o dia é hoje. digo-lhe que não, que lá em casa já moro eu e não há espaço para dois animais abandonados.

perguntam-me se tenho um blogue. acho que não. respondo que sim. mas não tenho. mantenho um blogue, como quem se recusa a desligar a máquina. mantenho um blogue há muito comatoso, agora vegetativo e persistente. qualquer dia é um dia bom para morrer e este blogue morre aqui hoje, sem nunca ter chegado a nascer. qualquer dia é um dia mau para nascer e este blogue nasce aqui hoje, sem nunca ter chegado a viver.